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a noite de shiva

Finalizados alguns (grandes) projetos, voltamos!

Sim, sim, no Brasil já é carnaval. E aqui, só desengano… Nem se pensa nisso, a gente esquece que o feriado existe, não planeja viagem, nem se vai ou se não vai brincar. Uma época do ano como todas as outras. É triste, sim, sim.

Mas na verdade a Índia é um grande carnaval, sempre cheio de gente nas ruas, barulho, cheiro de mijo, lixo no chão. Muito suor, apesar de pouca chuva (aqui em Delhi) e raras cervejas. Sexta passada, por exemplo, foi o dia da grande noite de Shiva, ou Maha Shivaratri. Na lua nova da noite mais longa do ano, eles rezam e meditam para lorde Shiva.

Em homenagem ao nome deste humilde site, fomos na sexta ao tempo de Shiva em Gurgaon. É um lugar com uma estátua colossal do deus, que se vê ao longe na estrada que vai até Delhi (veja mais nesse post). Sempre passávamos por ali e imaginávamos como seria o tal lugar visto de perto. Pois sexta foi o dia de conhecê-lo por dentro. Aproveitamos a visita (e disposição!) da Alessandra e da Helena para entrar um pouco no espíritro do Maha Shivaratri.

a multidão e shiva ao fundo

Mas nem tudo esteve perdido para o carnaval indo-brasileiro, pois no sábado brincamos um pouquinho na deliciosa festa carnavalesca dos amigos Eric e Marcela, com direito a confete e serpentina!

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old delhi: aquarelas

vendedor de amendoim e côco

vendedor de amendoim e côco

interior de antigo casarão, hoje mercado e cortiço

interior de antigo casarão, hoje mercado e cortiço

novas aquarelas do Luís, feitas em Old Delhi, nesse domingo.

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aprendendo a ler, de novo

Como alguns de vocês sabem, estamos tentando aprender hindi por aqui. A estranhesa da língua é equivalente ao japonês, chinês, russo, enfim… idiomas com os quais não tenho a menor familiaridade. Mas como podemos nos virar bem usando o inglês (em Delhi, a maioria fala o básico), o aprendizado acaba ficando meio lento e o uso se restringe a algumas palavras enfiadas no meio de frases, tipo “price kia hai?” (qual o preço?), ou sentenças chaves como “me bevekuv nahi hoon!” (eu não sou idiota!) – essa fundamental para não ser enganado na hora de fazer algum pagamento. Além do mundialmente famoso “namastê” ou “namaskar”.

O mais divertido nas aulas, contudo, é aprender a ler em hindi. Uma segunda alfabetização, sem dúvida. O sentimento de, pela segunda vez, descobrir que som tem cada símbolo e depois começar a formar palavras com eles, é bárbaro. Esquecemos como é ter que realmente “pensar” para ler e para escrever, pois tudo sai tão automático. E eis que me pego de novo  juntando c + a, para dar “ca”, e depois sacar que “casa” começa com “ca”, do mesmo jeito que “ca”valo, e por aí vai.

Na primeira aula me senti totalmente impotente. Eu olhava para aqueles desenhos e eles não me diziam nada. Para reproduzi-los, outra dificuldade, saíram garranchos, traços feiosos e bem longe do modelo a seguir. Mas aos poucos está melhorando, já decorei alguns caracteres e fico caçando eles pelas ruas, tentando decifrar esse novo código.  A maior alegria foi conseguir encontrar o nome de uma cidade, na viagem que fizemos esse final de semana, numa placa escrita apenas em hindi. Fomos atrás dos sinais conhecidos e… pimba! Com duas letrinhas familiares, encontramos a dita cuja. Bahut achá (muito bom!)!

E assim me dei conta, pela segunda vez, de que aprender a ler dá uma sensação mágica, um estalo maravilhoso que nos possibilita fazer parte de um sistema; e quem sabe ser  – pelo menos um pouquinho – mais livre nesse mundo.

o alfabeto "chã", para "chamach" (colher).

o alfabeto "chã", para "chamach" (colher).

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um passo

Acabo de ler que a corte de Delhi finalmente aprovou a lei que descriminaliza o homossexualismo no país. A seção de número 377 do código penal indiano (uma herança da época do Raj britânico), que considerava a relação consentida entre pessoas de mesmo sexo um crime (podendo levar a até dez anos de prisão), foi derrubada. Finalmente se admitiu que a lei violava os direitos humanos mais básicos.

Mas a Índia ainda caminha lentamente no que diz respeito aos direitos das minorias no país. No último domingo, aconteceu a “parada” gay de Delhi, porém quase não se falou do evento, como se eles ainda estivessem muito tímidos em manifestar publicamente sua escolha sexual. As poucas fotos que vi (quase nada nos jornais!) foram no blogue de um artista gráfico indiano (veja aqui), e muitas mostravam pessoas completamente cobertas (um pano sobre o rosto e todo o corpo). Enfim, um passo de cada vez, mas as coisas parecem estar se mexendo.

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você já esteve em calcutá?

Nós acabamos de chegar. A cidade tem algo de intrigante: algumas  das pessoas mais adoráveis que conhecemos na Índia vieram daqui. A região de West Bengal como um todo, cuja capital é Calcutá (ou Kolkata, em bengali), parece ser um solo frutífero para produzir intelectuais e pessoas que fizeram uma diferença no mundo. Tagore, Madre Teresa, Amartya Sen, entre muitos outros, são um exemplo disso.

Chegamos aqui na terça à noite, por volta das 23hs. O aeroporto é muito mais simples que o de Delhi (renovado recentemente), mas a temperatura é um alívio: “apenas” 31 graus. E úmido! Como é bom sentir essa umidade, que nos faz lembrar a chegada em Salvador, Bahia, quando saltamos do avião gelado para aquele ar gostoso e morno, que gruda logo na pele.

A população do pequeno aeroporto, chama a atenção em um aspecto: muitos parecem bastante ocidentalizados. As mulheres, sobretudo, o que é difícil de se ver por aqui. Logo lembramos de um dado, que os bengalis são os grandes emigrantes da Índia. Por sua região ser muito pobre, muitos acabam se mudando para os Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e outros países de língua inglesa. Talvez as pessoas no aeroporto sejam um reflexo disso, são NRI (non residente indians) voltando para visitar suas famílias na terra natal. Especulações, claro. Mas é incrível como em poucos minutos num saguão de espera podemos ver tantas coisas diferentes e criar mil relações na nossa cabeça.

Pegamos um táxi Ambassador (o carro mais típico da Índia) amarelo – a minha primeira corrida no veículo –, que bem poderia ser um riquixá, tanto pelo barulho como a sensação quando estamos dentro dele, mas é um carro, tem quatro portas, meio fechadas. O motorista dirige como um louco. Para em um farol, abre a porta e começa a bater alguma coisa na mão, que não conseguimos compreender. Vibhav, colega do Luis que viaja conosco, explica que ele está preparando o tabaco.

táxi ambassador em calcutá

táxi ambassador em calcutá

No caminho para o hotel vemos que Calcutá tem algo muito diferente de Delhi: aqui há um sentimento de cidade. As ruas são menores, existem calçadas, lojinhas, coisas de cidade. Parece até ser possível caminhar por aqui! Mas, vejamos o que nos aguarda à luz do dia. Todos nos alertam que o caos é como em poucos lugares do mundo e um dos maiores da Índia. Não podemos ser sensitivos à sujeira ou aos pedintes, à miséria e ao turbilhão de gente. É preciso sentir Calcutá a fundo, no meio de tudo isso.

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shiva no cinema

Assistimos ontem a um filme da diretora indiana Mira Nair, que no Brasil ganhou o título de Casamento à indiana [Monsoon Wedding, 2001]. Eu havia visto o filme há muitos anos no cinema em São Paulo, quando nem sonhava em conhecer a Índia. Me lembro que na primeira vez tudo parecia meio esquisito naquela trama, sobretudo o fato do casamento ser arranjado pelos pais dos noivos. Isso continua sendo incompreensível para nós, claro, mas digamos que não é mais um choque. Luis conta sobre o colega do trabalho, mais ou menos da nossa idade, ter por fim arrumado uma noiva – ou melhor, depois de quatro moças que foram apresentadas pelos pais, ele finalmente escolheu aquela que seria a futura esposa. “Mas a moça podia recusar, se não tivesse gostado dele!”, me conta o Luis, mostrando que a mulher também tem alguma voz durante o arranjo do matrimônio. Não que isso vá mudar alguma coisa, mas enfim… A conclusão é que o feliz casal (e as duas felizes famílias) irá se casar em dezembro, e para eles está tudo certo.

Nossa amiga Mari, que passou uma intensa temporada de cinco meses aqui na Índia, fez um belo relato do assunto em seu blogue. Aprendam mais sobre os casamentos indianos neste link.

Mas voltando ao filme, não é preciso dizer que a percecpão dele foi bem distinta dessa vez. A história se passa em Delhi, bem na época das monções – da qual nos aproximamos agora –, e pudemos reconhecer vários lugares da cidade que já se tornaram familiares para nós. Entre eles, qual não foi a surpresa quando apareceu a imagem do Shiva que vemos sempre que passamos pela já citada NH8 (o tal Shiva em Gurgaon autêntico). A filmagem foi como a nossa visão costumeira, pela janela do carro. Ironias da vida, sempre a rir de nós (isso parece acontecer com maior frequência nessa nossa passagem pela Índia).

Bom, fica a recomendação do filme, fácil de encontrar em DVD por esses lados.

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il ritorno

loja de chás em Delhi

loja de chás em Delhi

Depois de um mês e pouquinho fora, estou de volta a Gurgaon – a tempo de impedir que o Luís se converta ao sikhismo, coloque um turbante e nunca mais corte a barba nem o cabelo (vejam o texto anterior a esse, com o título  dramático).

Ir e voltar à Índia dá muito o que pensar. Depois de passar por aqui, parece que passamos a prestar atenção a coisas nunca antes percebidas. Como disse a vários amigos na passagem pelo Brasil, se o tempo aqui não valer para outra coisa, ele certamente vale para colocar a cabeça para funcionar. A cabeça não para, aqui e fora daqui. Não faz 24 horas que cheguei e deveria estar capotada por causa do fuso-horário, mas não. Estou “ligada”, ainda que não tenha saído de casa, parece que a cabeça gira de novo a mil por hora. Mesmo os sonhos são frenéticos, os mais loucos que já tive.

Ao pegar o avião no aeroporto de Paris já somos lembrados de como tudo é diferente por aqui. Os olhares, a forma de caminhar, as malas, o jeito de comer. Quando o avião pousa em Delhi, o trânsito na pista de pouso já relembra o que acontece nas ruas: caos, engarrafamento, freiadas bruscas. A Índia não lhe deixa ficar indiferente.

Logo vem o golpe do calor, 38 graus às 23h00. Hoje estou feliz da vida com uma rápida pancada de chuva, que cai de lado, bem fininha, e chegou empurrada por um vento forte e  abafado. Mas foi ligeira e já parou. Estou curiosa para ver as monções.

Foi difícil voltar, como eu pensava mesmo que seria. Mas estou pegando fôlego para enfrentar a nova etapa dessa empreitada indiana. E escrever aqui, é sempre um jeito de sentir vocês próximos, queridos amigos/leitores.

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pequenas alegrias

.. como, num domingo, estar no pesado trânsito a caminho de Delhi e, em meio a um louco cruzamento – dos que só existem aqui na Índia –, ter a pequena alegria de ver passar dois elefantes. Eles iam calmamente pela avenida, cada um carregando seu magro condutor indiano. Animais de placidez impecável.

E, depois, comer num lugar aconchegante em Sundar Nagar – pequeno mercado de rua, num bairro cheio de plantas e lojas de antiguidades – com o simpático nome de Baci. O comandante da casa é ítalo-indiano e faz comidinhas incríveis, com sabor familiar. Rúcula, tomate, azeite, queijo, pães. Presunto cru, até. Nada mais nos faltava. Ficamos horas sentados, a beliscar, bebericar e conjecturar sobre a vida.

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elefantes na pista

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o mais elegante meio de transporte

eles passam

eles passam

j.

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viver na Índia

Após quatro semanas no subcontinente, posso constatar que algumas coisas passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Algumas delas:

1) na chamada millenium city, a gloriosa Gurgaon, a energia acaba umas vinte vezes por dia (sem exagero). Nós temos sorte de ter um robusto, infalível e barulhento gerador, 24 horas, que logo resolve o problema, mas ainda assim passa-se o dia a ligar e desligar os eletro-eletrônicos da casa, movimento sempre seguido de um praguejar por causa da queda da internet (no momento mais crucial de uma mensagem que não foi salva a tempo);

2) a poeira não acaba. Gurgaon e Delhi – lugares por onde tenho transitado – têm uma constante camada de pó, que não assenta nem diminui nunca. Misture isso à poluição pesada e pode-se imaginar a qualidade do ar. Parece que na época das monções melhora (leia-se: o que era pó, vira lama);

3) mesmo que você não ponha o pé para fora de casa durante um dia inteiro, é impossível sentir-se sozinho. A campainha toca todos os dias, ao menos uma vez, e pode ser um encanador (que você não sabe de onde veio, nem entende o que ele diz), uma moça oferecendo seus serviços de limpeza (com mímica, claro), vários supostos funcionários do condomínio pedindo diversas assinaturas para coisas que também não consigo decifrar para que servem. Não paro de conhecer pessoas aqui;

4) assim como a campainha, o telefone também está sempre ativo – não esqueçamos que a Índia é o paraíso dos centros de telemarketing. Não importa se a conta de telefone só irá vencer daqui a uma semana. Uma gentil funcionária da AirTel liga todo início de mês para certificar-se de que você recebeu o boleto direitinho e para lembrar o valor da conta. Just in case… O maior exercício é decifrar o que está sendo dito, mas já estou me adaptando;

5) mas os indianos gostam mesmo é de um papel impresso. Num lugar pré consciência ecológica (“pense antes de imprimir” etc., nem pensar) nada vale mais do que um papelzinho. Em qualquer instância. A caixa do correio todos os dias fica abarrotada de folhas e mais folhas inúteis. Para entrar em qualquer aeroporto ou trem você precisa ter o seu e-ticket (observem o nome, o conceito) impresso. Um e-ticket virtual não vale nada, estranhamente. Qualquer mortal só põe os pés nos aeroportos do país se mostrar o famigerado papel. E, junto com o seu passaporte, ele será lido e revisto por pelo menos quatro controladores no seu caminho até o avião. E ai de você se perder o canhoto do cartão de embarque (ainda que o avião já tenha feito todo o percurso e acabe de pousar no destino ou na escala).

Uma anedota ilustrativa, que aconteceu há poucos dias com nossos amigos Cami e Marcos, que vieram do Brasil nos visitar. Eles tiveram de adiar uma semana a viagem para cá, por conta de uma operação urgente de apendicite. Por isso, foram tentar remarcar o voo da Air India para Udaipur, o e-ticket comprado pela internet, óbvio. E qual não foi a surpresa ao descobrir que para mudar a data do voo era obrigatório comparecer ao escritório central da companhia aérea em Delhi (o do aeroporto não valia!), pagar a diferença em cash e, claro, depois de muitas horas de telefone, idas à agencia e tudo mais, apresentar o e-ticket impresso! Apesar de muito custo, todos saíram felizes, cada um com seu papelzinho na mão.

Voltaremos com mais peculiaridade do dia a dia na Índia. Até breve, caros leitores.

Trecho da MG Road, estrada que liga Gurgaon ao sul de Delhi

Trecho da MG Road, estrada que liga Gurgaon ao sul de Delhi (foto: Denise Teixeira)

Vista aérea de um terreno em Gurgaon (da janela do nosso quarto)

Vista aérea de um terreno em Gurgaon (da janela do nosso quarto)

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